sexta-feira, 13 de agosto de 2010

A Bienal é uma merda!

Já fui em um bocado de bienais de livros. Algumas vezes porque achava que encontraria novidades bibliográficas e outras por obrigação profissional e social. E a cada ano que passava, ficava mais irritado de estar por lá, tanto que na Bienal passada fui apenas um dia, para apoiar a publicação de uma amiga. Mas a chateação continuou e após dois anos matutando cheguei, talvez tardiamente, às seguintes conclusões:
A Bienal nada mais é do que um evento para quem não lê, não gosta de ler e quer se penitenciar um pouquinho por causa disso. E existem duas protagonistas de Bienal que cumprem esses requisitos.
O primeiro deles é contumaz não-leitor, que vou chamar de bienalista. Esse sujeitinho acredita piamente que ir à Bienal e comprar um ou dois livrinhos de bolso e ganhar aqueles vale-livros que possuem valor menor do que um vale coxinha o transformará em um novo especialista em literatura das baixas planícies orientais da Criméia. Não satisfeito, o bienalista aproveita o ensejo e leva toda trupe familiar para o lugar, que, por sinal, já está entupido de outros seres da mesma espécie. O bienalista é um chato de galochas e inferniza os mais próximos por causa disso. Os filhos não queriam estar lá, mas o bienalista como se acha o sabichão, tem certeza de que “é importante levar as crianças para que elas tenham cultura” e o parceiro(a) tampouco, porque normalmente sabe que aquilo no fundo é um engodo. Afinal, o bienalista não gosta de livros, é um duas-caras deslavado. Pois ele é o mesmo sujeitinho que faz críticas vorazes quando alguém da família possui uma biblioteca não entendendo o motivo pelo qual fulano ou cicrano tem uma quantidade razoável de obras. Ou ainda, é o mesmo que resmunga quando as crianças têm leituras na época escolar, afinal esses professores “só inventam moda e, depois, aonde vamos colocar essas tralhas que só servem para ocupar espaço?!”
E por falar em professor, o seguinte tipo de assaz freqüentador da Bienal é o Professor de Bienal. O dito cujo é o típico professor ou algo semelhante que também não lê. Usualmente, em sua vida ordinária, sempre tem na algibeira inúmeras desculpas para não ler. Uma pequena digressão aos desavisados: Existem professores que há anos não estudam e posam de arautos do conhecimento em diversas áreas ou níveis de ensino, mas que são uns pulhas.
Mas voltando à vaca fria, o Professor de Bienal é o tipo que vai ao tal evento apenas pelo fato de não pagar nada e ter a honra de ganhar uma credencial do tamanho de uma peça de jogo americano. E quando começa o seu desfile pelo pavilhão da Bienal, começa a recolher todos os catálogos possíveis e imagináveis. Que vão para a lata do lixo quando chegar no seu humilde lar.
O Professor de Bienal, além de não ler, também é um tonto e alvo fácil de livreiros mal-intencionados. Pois, como não tem idéia do que ocorre ao seu redor no severino cotidiano, qualquer publicação de gosto ou qualidade duvidosa é enfiada peã sua goela. Principalmente aquelas publicações ianques de auto-ajuda do tipo “Quem mexeu na minha carambola”, com a indicação que vai ajudar na escola, na vida, na profissão ou no raio que o parta. Pura bobagem! E o grande ponto de concentração desses elementos é a praça de alimentação. Como pombos, eles se reúnem para comer aquela gororoba bienalesca com preços escorchantes. Após ter de esperar por 40 minutos em busca de um lugar para sentar, conversado sobre algo que não sejam livros (afinal ele já se cansou de vê-los) e de ter comido aqueles lanches requentados, o professor de Bienal levanta-se e volta a desfilar como um comandante de uma tropa de bufões.
Para evitar a fadiga, prefiro ir a lugares melhores freqüentados.